quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

re:

"Eu penso em você, minha filha. Aqui lágrimas fracas, dores mínimas, chuvas outonais apenas esboçando a majestade de um choro de viúva, águas mentirosas fecundando campos de melancolia..." - Diria Ana Cristina se te encontrasse.
Recebi sua carta e venho responder através desta...

Você desagua em mim e eu oceano, e esqueço que amar é quase uma dor.”
Eu tive que sair por uns minutos, me desculpa não ter deixado um bilhete e ter te preocupado.
Talvez por isso você não pode sentir que deixei minhas roupas intactas no armário do outro quarto, os cheiros que costumo colocar em mim e em determinado momento da noite, em você também, estão todos aí no nosso canto, nosso banheiro. Nosso brinquedo continua na parte de cima do guarda-roupas, bem aí acima de sua roupa pendurada.
Você poderia ter me ligado, eu estava com o celular no bolso, tentei ligar mas não consegui, não vi espaço para isso.
Você continua no reino que construímos, não pense que ele foi destruído, minha querida, ele está de pé ainda. Eu construí ele com muito suor, força, disposição, fome, tesão... não pense o contrário.
Bom saber que nossos gostos musicais se misturaram, se completando tão bem, fico feliz em saber porque adoro te mostrar novas melodias (desde o início, lembra?).
Espero que essa carta caiba na sua abarrotada caixa de correios, assim como meu corpo cabe em seu lindo, delicioso e experiente corpo, assim como eu e meus 22 conseguimos, na maior parte do tempo, caber nos seus 31.

Devolvo o beijo a você, que me fez tão igual e me deixou aqui, diferente...

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Perto demais

O chão se abriu sob seus pés e ela deixou seu corpo cair, sem hesitar, ela bateu no vazio...

Andando pela calçada, tropecei em uma caixa pesada, pequena... lá dentro encontrei meu passado, o poder de mudá-lo me faria mudar também meu futuro. Fui para casa com aquele objeto poderoso na mochila, pensando para onde voltaria, para quem e o que eu faria.
Pensei detalhada e, ao mesmo tempo, desesperadamente em vários planos, em todos os lugares que já estive. Fui e voltei em minha memória durante dias, sem sair do quarto, quase estática fisicamente eu me mantinha, minha cabeça por vezes latejava de dor, de desespero, de medo. Nada mudaria, cheguei à melhor conclusão.
"Eu não aguento mais!" Gritei, peguei a caixa e saí em direção ao mar, entrei e me deixei levar; acordei com o despertador.
Era só um sonho.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

fogo

Ela dobrou a carta novamente e a colocou em um dos bolsos da jaqueta, se levantou, colocou a mochila nas costas e começou a andar ouvindo suas músicas preferidas e fumando os últimos cigarros do maço.
Ela entrou naquela rua, a rua da sua antiga escola, deu uma volta no bairro, colheu algumas rosas pelo caminho, fazendo pausas para fechar os olhos e lembrar de momentos bons. Ela caminhou até o ponto mais alto, era lá o lugar onde ela não sentia nada além do vento batendo forte no rosto, onde ela passava o tempo escrevendo poesias sobre si mesma, ela via boa parte da cidade lá de cima.
Sentou-se na grama, observando o céu, que começaria a escurecer dentro de umas duas horas e pensando que daria tempo. Escreveu uma resposta para a carta que lera há algumas horas e no post scriptum um pedido de desculpas destinado àqueles outros que ela tanto amava; se levantou e continuou a caminhar.
Entrou naquele pequeno prédio de sete andares, aquele que sempre a acolhia. Antes mesmo dela nascer funcionava ali um dormitório para trabalhadores de uma fábrica próxima, era o que ela sabia por histórias. O prédio tinha as paredes manchadas pelas chamas que um dia o invadiram; ela subiu as escadas passando a mão esquerda pela parede suja, sujando também seus dedos, parando em cada andar para que as cenas dos dois últimos quartos vazios viessem em sua mente, como se ela estivesse andando pela sua vida, revendo, assistindo tudo de novo.
Ela finalmente chegou ao terraço, colocou a mochila no chão, as rosas e a carta, já dobrada e com manchas negras de sujeira, ao lado dela, observou que o fogo tinha feito com que uma das pequenas paredes que cercavam o lugar caísse, se sentou no chão balançando as pernas no ar, acendeu o último cigarro e começou a chorar e sorrir, ao mesmo tempo. Agora o seu rosto também estava com manchas negras nas bochechas, ela secou as lágrimas que caíam, e a fazia sentir cócegas, com os dedos sujos. Ela olhou para baixo e viu aquele lugar abandonado, feio, sujo... fechou os olhos e imaginou todos que ela amava juntos, sorrindo para ela.
O cigarro acabou, a lista de reprodução também... ela se levantou, abriu os braços e deixou seu corpo cair.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ah, Carolina...

Você sabe que eu sinto sua falta, essa falta que sempre existiu;
você sabe que eu tenho meus pares, meus lares, meus pesares,
tudo isso aqui, longe de suas asas;
você sabe que eu te amo, é o que eu digo, não só para você,
e saber disso me faz pensar que eu, na verdade, não sei de nada;
você tem que saber que eu sempre olho a flor, a toco, leio cada fibra, de cada pétala, toda vez,
e mesmo assim, minha querida, eu não conheço o significado dela por inteiro, você sabe.
E agora você sabe que, mesmo com essa poesia bem mais clara que a sua, esse cheiro de álcool e essa mesma fumaça que nos rodeia, tudo isso que melhora e piora a cada dia, eu continuo preferindo não saber de nada e te amar.

"Você é meu Édipo,
e eu,
seu Jung."

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Uma escolha por mim

"Parece que eu já sabia
A nossa sincronia não sabe o que faz.
Será que o meu mal é também o seu?
Não sei se eu estou na frente
Ou foi você quem correu
O tempo pareceu uma bebida forte demais pra nós
Subiu depressa
Mas nunca estávamos a sós."
                                  (Megh Stock - Conhaque)

Enquanto andava, me esforçava para conversar com alguém e lembrar de pequenos acontecimentos que me fizessem tomar uma decisão, ao mesmo tempo.
Minha sensatez se debatia enquanto tentava ganhar a luta contra uma crise de puro desejo; me lembrava das incríveis sensações boas que o lado julgado perigoso me dava e, ao mesmo tempo, tentava manter presente o pensamento que me ligava ao lado julgado seguro e confiável.
Nada aconteceu como minha expectativa previa para aquela noite, tudo foi diferente e estranhamente prazeroso.
Quando cheguei meu lugar já estava guardado, como se a certeza de que eu chegaria existisse, isso me assustou. Eu me sentei, me sentindo um pouco perdida pensei no que poderia ter me levado até ali, já que não me lembrava mais de como tinha chegado, dormi de novo; acordei quase uma hora depois e me encontrei nos braços dela novamente, aquecida, descontrolada e com medo.
De que lado estou falando? Dos dois, o meu lugar está guardado bem no meio dos dois lados e eu, entorpecida, com frio e medo novamente, não sei para qual lado ir.
Algo me conforta, afinal, as pessoas estão sempre em dúvida, sempre prestes a fazer uma escolha, certa ou errada, e (in)felizmente meu caro, a escolha é um dos maiores dramas da existência humana.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Lista

  • Um pedido, diferente, bonito, como nós;
  • Flores em casa de manhã, eu de longe;
  • Restaurante que força pratos de entrada;
  • Cerveja e noitada com bilhete escrito a caneta preta a frase mais bonita da música mais bonita;
  • Serenata com repertório que comove do começo ao fim, que instiga abraço a cada minuto;
  • Beijos na testa, sempre;
  • Dentre várias outras coisas que não me lembro agora, amor, puro e simples.
Só.
Não é difícil, não dói.
Esperando.

domingo, 15 de abril de 2012

Minha menina

A minha menina é unicamente egoísta, e assume, ela é perfeitamente imperfeita; me entorpece, é quem me faz pensar em como posso ser pior em aspectos melhores.
Ninguém a conhece porque ela só aparece para mim, ela me liga tarde da noite, quando todos estão dormindo, para falar sobre como ela consegue parecer a adrenalina presente em uma curva fechada a 140km por hora, com apenas uma última chance para um beijo de despedida.
Ela me beijou e eu caí, caí naquele abismo sem nada sólido que pudesse me segurar durante a queda, e eu amo, amo as borboletas que parecem fazer algum ritual dentro de mim enquanto eu caio. Quando sinto o chão empurrando meu corpo para cima novamente, e minha alma tenta segurar seu grito de dor (os dois sem sucesso), busco alguma bebida quente e um canto para sentar; já não consigo mais lembrar do porquê de estar ali naquele momento, já não consigo me lembrar de como eu era antes de tudo isso.
E, à propósito, eu amo o seu sorriso.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Advertência

"Te mandarei mensagem às 3 para saber se já estará acordado e pronto 
para a sua melhor viagem da minha vida.
É, essa sua melhor amiga é chata, 
depois de 7 anos a gente tem mesmo é que compartilhar essa ansiedade."

Ao mesmo tempo, penso na menina que está fazendo falta esses dias, ela é a única que entende, assim como eu, a página 18. Ela entende e ela volta para ver os dois quartos vazios... estou pensando, imaginando quando poderemos fazer isso juntas, de mãos dadas...
Nisso, vem uma das imagens presentes no meu sonho da noite passada:
eu escorregando em corrimão infinito; vivendo um grande amor.
Esse sonho deve refletir o que aprendi sobre alucinógenos:
sentimentos compartilhados que podem servir como alucinógenos para a alma, para a consciência...
ou a falta deles.

Escrevendo, escrevendo e respirando fundo, para começar, com um novo ar, uma leitura sobre grandes amores.

terça-feira, 27 de março de 2012

Ei você, confortavelmente entorpecido...

"Escrevendo enquanto penso nelas, em todas ao mesmo tempo.
Ninguém sabe.
Ao som de Comfortably Numb, sinto vontade de deitar olhando o céu e gritar:
- Olá?
  Tem alguém aí?
  Apenas acene se puder me ouvir
  Tem alguém em casa?


- Ei você,
  Com o ouvido contra o muro
  Esperando alguém gritar
  Você poderia me tocar?


Será que ela me ouve?
Será que ela sabe onde estou?
Será que ela aguentará a solidão, e será que sobreviverá?
Será que ela sempre foi assim e só eu não via?
Será que a culpa delas também é minha?"

Ela fechou os olhos e permaneceu olhando para seu céu, sem gritar e, assim, sem respostas.

sábado, 17 de março de 2012

Primeira lição

Lirismo elegíaco, endecha?
Ou lirismo erótico, apenas?

"olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas." (Ana Cristina C.)



sábado, 10 de março de 2012

Deitada em teus pés

Um anjo que extermina a dor de fora
cultivando-a no próprio jardim,
levando como angústia
essa mentira chamada felicidade.

Musiquinhas para tudo

"A escuta é uma das coisas mais magníficas da vida."

Ela começa e termina coisas diferentes da mesma forma,
e nunca termina como se espera , talvez porque comecem inesperadamente.
Ela é feita de um sentimentalismo imaturo, imediatista; a sociedade está assim, por isso prefiro achar que não faço parte dela: da sociedade e da menina boba.

"E que sejam realizados os seus desejos inconscientes, sem pudor."
E que um salto do sétimo andar continue parecendo um acontecimento doce e tristemente belo; sentimos falta de seus cabelos, seus óculos, suas palavras, suas...
Eu serei sua e estarei aos teus pés, para sempre.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"Nós encontramos o amor...

...em um lugar sem esperança."

Não encontramos, só eu penso assim, enquanto estou sozinha: penso nas marcas nos nossos corpos, que se encontram quando você segura a minha mão e me dá um beijo que quase sempre se segue de um abraço sem igual.
Estamos nos encontrando em lugares sem esperança para brindar o que nos atrasa. Isso sim.
O cheiro continua em minhas camisetas, o jeito de mexer o corpo continua em meu quadril, o seu olhar quando sorri para mim... tudo continua em minha mente.
Eu ouvi você chorar quando ninguém podia ouvir, você me falava (ou falava consigo mesma, não sei) sobre questões que você já não entende mais, sobre a falta de esperança que as cerca; você busca por algo bom, mesmo que, para isso, você tenha que voltar a lugares ruins.
E eu continuo aqui, que assim seja, cheio de egoísmo bem entendido e aceito.
Sinta-se à vontade.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Aula de francês

Não sei como ou porque mas, eu disse antes de acordar:
“Agora eu entendo suas faltas na aula de francês.”
Apenas estou lembrando com um sorriso no rosto e querendo saber: “Como está você?”.
Apenas.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Big Angel Theory

"Quando acordo triste, sempre falo: Hoje acordei para o Lá menor!
E quando estou feliz, acordo para o Sol maior."


É bem assim, quando se acorda triste, o mar está azul, escuro e a aguá salgada bate nas pedras fazendo Lá menor; batida e pausa. Quando se acorda alegre, acreditando que a felicidade existe, o céu está azul, claro e  mesmo com o sol sorrindo manso, chove fininho, devagar, e a água doce bate no chão fazendo Sol maior.

"Eu ando bem Sol sustenido seguido de Dó maior." Eu disse sozinha, sentindo a brisa na pele e ouvindo que nenhuma intenção minha fará diferença.

O bolo está pronto, saiu pequeno, bonito e com um leve aroma de saudade.