sábado, 11 de junho de 2011

A carga


Keiko Takeda, jovem camponesa, trabalhava com seu pai pelas redondezas de sua cidade no Japão; quando seu pai morreu, se viu tendo que dar conta de tudo sozinha, precisa se sustentar. Ela sabia que não conseguiria trabalhar só e decidiu procurar por alguém para dividir o trabalho e os lucros. Ela ouvira falar de uma bela e carismática jovem que morava a alguns quilômetros de sua casa e que estaria disposta a trabalhar. Keiko foi ao encontro de Mika Ikeda, a filha mais nova de uma família conhecida por serem humildes e ainda assim, muito felizes. Depois de conversarem e decidirem que trabalhariam juntas, Mika foi morar na casa de Keiko para facilitar o trabalho que começariam em breve.
O combinado foi que Keiko abriria caminho pelas plantações e as guiaria, enquanto Mika, carregaria a carga diária que ela pudesse suportar. Tudo começou!
Elas passaram quase três anos juntas, uma bela e intensa amizade se formou, perigos, atrasos, fome, risadas, brigas e sinceras desculpas, muitas coisas foram compartilhadas.
Numa tarde como as outras de trabalho intenso elas caminhavam, Keiko abrindo caminho a frente e Mika carregando o peso atrás, como de costume. Keiko falava, reclamava, contava histórias,cobrava, enquanto Mika permanecia em silêncio, era sempre assim; Mika era tímida, paciente, fechada em seus pensamentos e bons ouvidos, boa memória, Keiko era extrovertida, agitada, preocupada. Mika parou de andar, com a respiração ofegante continuou olhando para as costas de sua amiga que já estava a quase cinco metros de distância, Keiko parou de falar e percebeu a ausência de Mika atrás dela, virou-se e disse:
- Porque você parou, preguiçosa? Você é muito lenta e ainda pára? Precisamos chegar antes de escurecer!
Mika continuou imóvel olhando para Keiko que se aproximou dela e gritou:
-O que foi? Será que só eu tenho que trabalhar, sempre? Quantas vezes vou ter que andar mais devagar para você conseguir acompanhar, Mika? - Ela abaixou o tom de voz e completou: - Você chega a ser inútil ás vezes.
Mika colocou a carga no chão, respirou fundo, pegou de novo o peso e recomeçou a andar.
No outro dia, Mika levantou duas horas mais cedo e saiu sozinha. Fez o mesmo trajeto porém, com uma quantidade bem maior de peso. Quando voltou, duas horas mais tarde que o normal, encontrou Keiko chorando, andando de um lado para o outro na pequena sala de entrada da casa em que moravam. Keiko perguntou imediatamente:
- Onde diabos você estava Mika? Você nunca foi sem mim! Que atitude dramática e idiota foi essa?
Mika colocou com certa dificuldade a carga aos pés de Keiko, olhou para ela e disse com calma:
- Enquanto você nos guiava e achava que isso era o mais importante do nosso trabalho, eu carregava diariamente muito peso por você, tudo sempre esteve nas minhas costas. Hoje eu quis provar para eu mesma que o meu trabalho sempre foi feito ao seu lado com orgulho e dedicação, e que ele é sim, muito importante, sempre foi. Hoje eu carreguei o máximo de peso que pude, eu carreguei tudo isso por você, mais uma vez, porém, pela primeira vez, com consciência de que eu fiz minha parte.
Mika pegou algumas peças de roupa e saiu depois de dar um beijo no rosto de Keiko.
Keiko sentou e fechou os olhos, ela sabia que não veria Mika novamente.