sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Conhaque

"Inventamos outra poesia
Tentando explicar o que nos atrai
(...)
Parece que eu já sabia
A nossa sincronia não sabe o que faz."



- Ela me puxa e me abraça no meio da pista, enquanto ninguém olha; quando eu começo a sorrir, ela me solta sem avisar e vai dançar.
Enquanto ela reclamava, eu tomava mais um pouco de água gelada, o calor estava infernal.
- Sabe, a sincronia existe, e é perfeita porque quando sai da linha, é controlada por uma de nós, então porquê não?
Eu disse que não sabia, mesmo sabendo.
- Mas quem sou eu? eu sou nada perto do que ela precisa, ou apenas o que a alimenta com minha energia, todos os dias.


"O abajour foi aceso novamente, agora ele é usado todas as noites 
(uma forma de evitar que tudo seja consumido pela sombra). 
Os chás só teriam algum sabor 
se fossem preparados e saboreados numa manhã ao lado dela, 
por isso evito ao máximo não tomá-los nessas noites, sozinha."

- Tudo passa pela minha cabeça rápido demais, o tempo todo, tudo se contorce, idéias voando, cenas sendo imaginadas, e eu estou sóbria falando de várias pessoas ao mesmo tempo, e todas sou eu.
Eu não pude responder mais, tudo passou do ponto e se queimou.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Pepper or cherry

Eu posso ver o estóico rachando ao meio.

"A idade é a mesma;
A história talvez não exista.
E o encanto vai passando porque o egoísmo é o mesmo, não assumido."


Conte como foi.


"Ela simplesmente levantou-se, tomou um banho e foi embora, não vestiu a minha camisa preferida, não debruçou na janela para fumar algum cigarro, não me abraçou. E o pior é esperar, mesmo depois de tudo, por uma ligação dela dizendo que chegou bem em casa e que está com saudade."


Eu também estou.


"Os anos continuarão passando, três ou mais - além - para me dizerem que nada, ninguém vai superar o que ainda acontece em minha mente, porque a distância entre as pessoas sempre existirá."


Por segurança, sempre. 


Você não foi convidada, foi apenas um infeliz deslize.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Sambando só

"Será
Que ela samba porque quer?
Ou é desabafo de mulher?
Que já perdeu seu coração pra alguém
Que fez sua fortaleza ceder
Mas nunca deixa de esconder

Atrás das mãos sem revelar pra ninguém.

Sua dor onde é que vai parar?
Pelo samba ela se embala até cair
De copo em copo quer voar e distrair
Mas seu corpo quer voltar
Pros braços de quem deu um nó
Em sua vida e assim
Ela segue sambando só." -Megh Stock


Depois de alguns goles que subiram depressa, andamos até um lugar realmente seguro e, já na porta, ela começou a contar aquela história que não sai da minha cabeça; a louca história que ouvi enquanto aquele quarto rodava, essa que a fez ter cicatrizes no braço direito - sangue que escorreu e deixou a camisa social branca com uma mancha vermelha deveras bonita - a história que a fez ter que tomar remédios para conseguir dormir, bela tragédia que a faz dançar em diferentes pistas, luzes, músicas, copos e bocas, todas as noites.
E distante ela está, distante será, porque seu corpo e sua mente querem voltar para alguém que ela ainda ama; assim talvez ela siga, só, até que esse dia chegue, o dia que me fará chorar sentindo a maior saudade que eu poderia sentir dela.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Onírico

"Eu te amo, repete sozinha para o escuro toda noite, pouco antes de seu corpo dissolver-se na espuma do sono, eu te amo. E se pudessem saber, os outros, todos saberiam que isso não deixa de ser uma vitória. Certa espécie de vitória. Mas tão dúbia que parece também uma completa derrota."


Última parte do conto "Onírico", escrito no ano que nasci, 1991, por Caio Fernando de Abreu, recitado num áudio de 19 minutos por você.
Amores que só acontecem em sonhos ou em outras dimensões, eu li essa frase três vezes antes de abrir o arquivo e ouvir sua voz rouca com seu sotaque recitando todo o conto para mim, com paciência, intensidade e beleza. Tão intenso que me deixou com os pêlos do corpo completamente arrepiados quando ouvi pela primeira vez, já na segunda eu apenas senti ansiedade, saudade.
Eu estou te esperando, com toda a minha saudade, e o amor de sempre.

Nós não curamos nossos sintomas, eles nos curam.

"Sintomas como pessoas que estão distantes,
pessoas que eu só quero ter por perto,
abraçar.
Essas que compõem a minha memória,
minha consciência,
meu desejo."

Um novo sintoma V

"É diferente dessa vez, é mais forte, mais difícil, dói mais." Ela disse enquanto olhava quase sem piscar para a parede quase limpa.
Eu estava ao lado, ouvindo e tentando não gritar, eu apenas ouvi em silêncio e ela continuou:
"Eu não consigo mudar isso, vivo nesse meu mundo utópico onde eu sou apenas uma escrava qualquer de uma ideia idiota que quase me diz: você é absolutamente imprestável."
Ela colocou a tal música para tocar e comentou sobre um certo frio na barriga que sente quando a ouve; a música acabou e uma outra se seguiu na lista de reprodução, essa lembrava outra pessoa, música tocada com apenas um violão cru, bonito, ela sempre foi tocada assim.
"Uma pena ninguém querer tocá-la mais." Eu disse em voz baixa.
Ela sentiu vontade de chorar, mas respirou fundo, engoliu o choro...  "Eu sou como essa música, então." Resmungou, descontente.
Nesse momento a música dizia:
"Você faz algo em mim, que eu não posso explicar. Eu sairia da linha se eu dissesse que sinto sua falta?"
O silêncio se sentou entre nós. A música continuou:
"Eu sei que vou te ver de novo, cedo ou tarde, mas eu preciso que você saiba que eu me importo e, eu sinto sua falta."
Eu respirei fundo e engoli o choro.